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(JPP)
PONTO DE NÃO RETORNO
Há um aspecto desta crise que está longe de ser enunciado e analisado: é
que ela é para milhões de portugueses um ponto sem retorno. Ou seja,
nunca mais vão deixar o nível de pobreza em que estão a ser mergulhados.
Mesmo que possa haver a prazo médio ou longo alguma recuperação
económica e do emprego, não será para eles, nem no seu tempo, nem nas
suas oportunidades. Para estes é que, em primeiro lugar, a crise é mais
trágica, definitiva, cruel. E não há nem uma palavra, nem uma acção que
os possa salvar.
Estou a falar das pessoas e das famílias que o desemprego, os impostos,
os salários e o custo de vida vão atirar para a linha abaixo da pobreza.
Como é que a vão ultrapassar de novo na sua vida útil? Sim, na sua vida
útil, que é o que conta. Vai haver emprego para os actuais
desempregados? Nunca, jamais, em tempo algum, podem esperar voltar a ter
emprego. Se alguma recuperação existir no emprego, será muito pequena e
favorecerá os mais novos, e novos aqui é na casa dos vinte anos. Vão
conhecer uma vida mais barata, preços mais baixos da renda, da luz, gaz,
água, transportes? Nunca, jamais, em tempo algum, tal é previsível nas
próximas décadas. Vão poder por milagre pagara as suas prestações e
dívidas? Com que dinheiro? Vai diminuir a carga fiscal? Talvez daqui a
cinco, dez anos, na melhor das hipóteses, mas sempre pouco. Os impostos
têm a característica de se instalarem para a eternidade. Os estragos
feitos em 2013, 2014, são para já suficientes para destruírem milhares
de pequenas empresas e lançarem na insolvência milhares de família. Como
é que se volta atrás? O governo não sabe como, nem quer saber. É o
“ajustamento”.
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© José Pacheco Pereira