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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Júlio Isidro disse...

NÃO, NÃO ESTOU VELHO!!!!!!
NÃO SOU É SUFICIENTEMENTE NOVO  PARA  JÁ SABER TUDO!
Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.
E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da
liberdade.
Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses ficam a saber, em espanto, que são
responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente,
ordenadamente, no respeito  das regras da democracia, com manifestações
próprias das democracias e greves a que têm direito, mas
demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e ….calar.
Sou dos que acreditam na invenção desta crise.
Um “directório” algures  decidiu que as classes médias estavam a viver acima
da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a
dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e
invadiu o dia a dia.
Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado
Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto
por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de
Auschwitz.
Parece que  alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja
final.
Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita
sobrevivência.
Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito
menos do seu contrato com o Estado  que se comprometia devolver o
Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro  entre os medicamentos e a
comida.
E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão
impossível.
A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o milagre da
multiplicação dos pães.
Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais
impedem-nos de  sair de casa,  suicidam-se mais pessoas, mata-se
mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se  de sangue ,
5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores
de geração espontânea, mas 81.000  licenciados estão
desempregados.
Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas,
enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho.

200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada”  faz um milhão de
espectadores.

terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os
festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de
euros.

carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a
gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de
vida que exaltam a boçalidade.
Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas  há as grandes
vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros
países intervencionados.
Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai
acabar em bem...estar para ambas as partes.
Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e
higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha
para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor
Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS
americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um
sonho…
Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras
que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se
vendem?
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  1. Júlio Isidro
    Locutor
  2. Júlio José de Pinho Isidro do Carmo é um locutor de rádio e entertainer português. É reconhecido como um dos mais bem sucedidos profissionais da televisão portuguesa. Wikipédia

  3. Nascimento: 5 de janeiro de 1945 (70 anos), Lisboa

E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa.
Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora.
E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer
exactamente o contrário do que está escrito no dicionário.
Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito
discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos.
E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró,
nem que seja por via bancária. Surrealista…
Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e
almoço.
E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome ,
envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos.
É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20
anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões
com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero
morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.

Júlio Isidro