O minhoto Tomaz de Figueiredo, e os cães
"...Literariamente,
nasci livre. Abraçado a esta liberdade, minha luz e minha cruz, irei
até que feche os olhos, se tiver quem mos feche. E penso ainda, questão
de querer ( o mais custoso, a quem pode querer ), tornar-me lá à minha
casa do Minho - hoje casa de fantasmas -, aos meus horizontes de rio e
de penedos, aos meus limoeiros e laranjeiras, ao meu retiro entre buxos,
à minha fonte só minha, ao meu silêncio que assombram vozes antigas.
Lá, arranjar um perdigueiro, mas de raça, afeito a pensar, nem que por
ele dê uns contos. Pategos, nem cães! E seja-me ele companheiro,
fale-lhe e entenda-me, queira-me o afago na cabeça, conte-lhe doutros da
sua raça, que em tempos lá preguiçaram às mesmas sombras e me
acompanharam pelas mesmas serras, alguns que por lá deixaram
descendência. Netos, hoje, em que grau? E levá-lo ainda comigo às
perdizes e galinholas, ser digna dele, ainda, a minha espingarda.
Primeiramente, conversaremos os dois, entender-me os olhares, contar-lhe
que também precisei de morder, porque amei, que também eu tive uma vida
de cão."
Tomaz de Figueiredo, final do prefácio do livro de novelas Vida de Cão .