A almoçarada
por BAPTISTA-BASTOSHoje
O
vistoso Grupo Excursionista Passos Coelho & Compinchas foi a uma
almoçarada em Alcobaça. Deslocou-se, o grupo, em potentes automóveis,
levando consigo, convenientemente, os guarda-costas habituais. Um número
incontável de viajantes. Poderiam, talvez, viajar de autocarro, mas
não. A decisão foi tomada em Conselho de Ministros anterior, com a
veemência que deliberações desta natureza exigem e justificam. No
presumível autocarro, a excursão seria mais divertida: um bulício de
conversas e de risos, uma troca de histórias matreiras, acaso
inconfidências risonhas e intercâmbio de pequenos segredos.
O
selecto conjunto ia discretear sobre as maleitas da pátria e,
porventura, encontrar soluções para o que nos aflige. Poderia, a
reunião, ter sido em Algés, na Trafaria ou na Tia Matilde. Qual quê? O
recato do mosteiro e o meditativo silêncio eram convites indeclináveis à
grave reflexão a que se propunha aquela gente considerável.
Acontece
um porém: na capela ia celebrar-se um casamento, e um repórter curioso
aproximou-se, lampeiro, de gravador em punho. Esclareceu a jovem,
vestida a rigor com véu e flor de laranjeira, a coincidência de o
Governo estar ali, e ela também para o enlace desejadamente jubiloso.
Espavorida, fugiu para o interior do monumento, sem a complexidade
indecisa dos que olham para o poder com reverente obséquio. Entendeu,
provavelmente, a noiva que o encontro não era sinal auspicioso e que a
presença simultânea de tantos ministros dava azar.
Tomando as
coisas pelo seu nome, acerca de que conversaram, aqueles que tais; que
valores absolutos como a verdade, o bem, o sagrado, a beleza alinharam
no que disseram? Adquiriram consciência de que a unidade dos valores
morais está a desintegrar-se rapidamente, por culpa própria? O
recolhimento piedoso do local era propício a actos de meditação e, por
decorrência, à contrição e ao remorso.
Mais prosaicamente, que
comeram os excursionistas? Embrulharam lanche? Levaram marmita? Passear,
decididamente, não. O coro de protestos, de vaias e de insultos que os
recebeu teria afugentado qualquer ideia de turismo. No final, o ministro
Poiares Maduro, em resposta à ânsia noticiosa dos jornalistas, disse
umas frases inócuas. Percebeu-se, no enredo, que o encontro de Alcobaça
redundara em nada, rigorosamente em nada; que nada se decidira, que tudo
fora absurdo, confuso e disperso.
Poiares Maduro é, certamente,
bom rapaz, e só por isso tem uma aparência formal de tranquilidade
infalível. A voz ainda está em formação, e não me parece que possua
sabedoria administrativa e astúcia suficientes para enfrentar as
armadilhas que o aguardam. O partido que suporta o Governo é um saco de
lacraus. Dividido em grupos de interesses, até já perdeu o sentido da
cortesia. E a almoçarada, em Alcobaça foi uma sessão de despropósito,
consequente com o estado do Governo.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo